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Dias Toffoli suspende júri dos réus no caso Kiss, que estava marcado para 26 de fevereiro

Ministro do STF entendeu que a realização do novo julgamento pode causar "tumulto processual"

10 de fevereiro de 2024
(Foto: Juliano Verardi / Imprensa TJRS)

A realização do júri dos quatro réus pelo incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central, que aconteceria em 26 de fevereiro, em Porto Alegre, foi suspensa. A decisão é do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O ministro atendeu a um pedido do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Toffoli considerou que a realização de um novo júri poderia causar “tumulto processual”, uma vez que ainda há recursos pendentes sobre o primeiro julgamento, realizado em 2021 e anulado pelo Tribunal de Justiça – decisão confirmada depois pelo STJ.

Com esta decisão, o processo fica suspenso até que o STF julgue os recursos do Ministério Público do Rio Grande do Sul e do Ministério Público Federal.

“A realização da sessão do júri designada para ocorrer no próximo dia 26/2/2024 pode conduzir a resultado diverso do primeiro julgamento, causando tumulto processual, não se podendo ainda, por razões óbvias, antever o desfecho do recurso extraordinário”, diz Toffoli na decisão.

O ministro ainda comentou que “esse cenário autoriza concluir pela possibilidade de virem a ser proferidas decisões em sentidos diametralmente opostos, tornando o processo ainda mais demorado, traumático e oneroso, em razão de eventuais incidentes”.

Para a promotora de Justiça, Lúcia Helena Callegari, que atuou no primeiro julgamento, que ocorreu em 2021, a decisão é uma prova de que a justiça está sendo feita:

— Esta decisão que suspendeu o julgamento atendeu os anseios das famílias, das vítimas e dos sobreviventes. Eles não queriam se deparar com um novo julgamento sem que tivesse uma decisão do STF. A Constituição fala em soberania do Tribunal do Júri, garantia dos vereditos e essa garantia de soberania não estava sendo respeitada até este momento com a anulação do julgamento por questões que entendo inexistentes. Os quatro réus foram condenados e esta decisão que veio do povo tem de ser respeitada.

Em entrevista ao programa Estúdio Gaúcha, da Rádio Gaúcha, na noite desta sexta-feira (9), o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi, comentou sobre a decisão desta sexta.

— É uma decisão extremamente favorável à nossa expectativa. A gente buscou suspender esse júri em dezembro do ano passado para que houvesse tempo de o STF julgar esse recurso extraordinário que está lá com eles. Esse pedido não foi atendido e agora o ministro Dias Tóffoli volta a decisão e colabora com essa ideia de suspensão — diz Rovadoschi.

Ele pontua que essa decisão completa um ciclo de recursos jurídicos empregados pela associação para tentar impedir que um novo júri venha a ocorrer.

Anulação do primeiro júri
O novo júri foi marcado para o dia 26 de fevereiro após a anulação do primeiro julgamento, determinada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) e confirmada depois de recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Com a decisão, as condenações de Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Luciano Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos, com penas que vão de 18 a 22 anos e meio de prisão, perderam validade. Eles chegaram a ser presos, mas posteriormente foram postos em liberdade.

O MP havia entrado com recurso junto ao STJ para reverter a decisão da 1ª Câmara Criminal do TJ. Em junho, após voto favorável à rejeição das nulidades por parte do ministro Rogério Schietti Cruz, relator do processo, dois pedidos de vista foram solicitados pelos ministros Antonio Saldanha Palheiro e Sebastião Reis.

Na retomada da sessão, o ministro Palheiro apresentou voto discordante do relator, empatando a votação. Na sequência, o ministro Reis acompanhou o voto de Palheiro, desempatando o placar. Por fim, votaram os ministros Jesuíno Rissato e Laurita Vaz.

O primeiro julgamento aconteceu em dezembro de 2021, durando 10 dias, e terminou com a condenação dos quatro réus. O incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, completou 11 anos em 27 de janeiro de 2024. A tragédia deixou 242 mortos e mais de 600 feridos.

O que dizem as defesas

Tatiana Borsa, advogada de Marcelo de Jesus
Em nota, a advogada Tatiana Borsa diz que “a defesa respeita a decisão exarada pelo Ministro Toffoli o qual suspendeu a sessão plenária do Tribunal do Júri”, mas diz que “causa espanto que o órgão ministerial esteja empenhando tanto esforço pela não realização da sessão plenária, causando ainda mais sofrimento a todos envolvidos, familiares, réus e a sociedade de um modo geral”. Veja a íntegra abaixo:

“Era de conhecimento que o MPRS estava em Brasília com o intuito de evitar a realização do júri.

Nos causa espanto que o órgão ministerial esteja empenhando tanto esforço pela não realização da sessão plenária, causando ainda mais sofrimento a todos envolvidos, familiares, réus e a sociedade de um modo geral.

Vamos nos reunir e tomar as medidas cabíveis para conseguirmos reverter essa decisão para que a sessão seja realizada no dia 26/02/2024.

A defesa estava preparada para comprovar a inocência de Marcelo, acreditando que nesse novo julgamento seria feita a tão almejada justiça e não vingança”

Jean Severo, advogado de Luciano Bonilha
Por meio de aplicativo de mensagem, o defensor disse a GZH que estava pronto para o julgamento:

“Respeitamos a decisão do ministro porém estávamos prontos para o julgamento. Ministério Público do RS sentiu que Luciano seria absolvido e FUGIU do plenário. Vamos aguardar o julgamento do recurso e enquanto isso continuaremos a trabalhar cada vez mais forte para a absolvição do Luciano.”

Mário Cipriani, advogado de Mauro Hoffmann
Posicionamento foi enviado por aplicativo de mensagem:

“É inacreditável! Estamos desolados pois são meses de preparação! Estão nos tirando a chance de explicar a realidade e a verdade! A covardia institucional é algo que a sociedade deve se preocupar! Qual o medo de realizar um novo júri, mais justo e mais correto? O Ministro suspendeu o júri pelo risco de reversão do julgamento! Escreveu isso! Juridicamente inaceitável. Temos muito que debater sobre isso. Vamos ingressar com recurso e ir pessoalmente ao STF com esta demanda!”

Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr
O advogado Jader Marques diz que “respeita a decisão do ministro” e “vai estudar agora quais são as medidas a serem adotadas”. O advogado manifestou o seu “descontentamento com a postura do Ministério Público de não permitir que o caso tenha o seu desfecho final a partir de 26 de fevereiro.”

— Nós acreditamos que a sociedade, as famílias, inclusive as famílias dos acusados, assim como os quatro que estão sendo levados a julgamento, todas as pessoas esperavam que esse caso pudesse ter fim agora na data aprazada pelo Poder Judiciário, que tomou todas as providências, efetuou gastos consideráveis e que estava pronto para a realização do julgamento. Fica claro que o Ministério Público enfrenta um desgaste muito forte, não só no Estado, mas com a sua imagem sendo atacada em todo o país a partir de uma postura. De trazer apenas quatro réus para julgamento quando a Polícia Civil fizera um indiciamento de mais de 28 pessoas. O Ministério Público definitivamente não quer esse julgamento. Fica, portanto, a espera da defesa de Elissandro Spohr para os desdobramentos do caso no STF.

Fonte: Rádio Alto Uruguai - com informações de GZH

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